Ações de Edinho na pandemia ganham destaque internacional - Edinho Silva
Seta topo ações contra a covid-19

Ações de Edinho na pandemia ganham destaque internacional

A atuação do prefeito Edinho no combate à pandemia do novo coronavírus em Araraquara, que já havia sido destaque nos grandes veículos de mídia do Brasil, agora também ganhou repercussão internacional. A edição desta segunda-feira (28) do jornal francês Libération publicou uma reportagem de duas páginas sobre as medidas implantadas na cidade com o propósito de conter a disseminação do vírus causador da Covid-19.

O Libération é um jornal diário com sede em Paris. Foi fundado em 1973 com apoio de Jean-Paul Sartre, que foi seu primeiro editor. É o periódico francês com maior investimento na área digital e que chegou a contar com mais de 100 mil exemplares em 2013.

A matéria foi escrita pela jornalista Chantal Rayes, correspondente internacional do jornal, que conferiu pessoalmente a situação em Araraquara. Ela esteve na cidade por dois dias no início deste mês de setembro e acompanhou todo o acolhimento realizado na UPA da Vila Xavier, acompanhou as equipes de atendimento médico e enfermagem no procedimento casa a casa e viu de perto uma série de outras ações realizadas na cidade, além de entrevistar o prefeito Edinho.

Com o título “Araraquara é resistência na Covid-19”, a reportagem é aberta com um subtítulo que salienta a atuação contrária à política pregada pelo presidente Jair Bolsonaro. “No estado de São Paulo, duramente atingido pelo vírus, uma cidade está melhor do que as outras. Ao contrário da política de Bolsonaro, o município de esquerda criou uma triagem em massa, que isola e cuida rapidamente dos doentes
“, diz o trecho.

O conteúdo apresenta casos de pessoas que passaram pelos serviços oferecidos na cidade, com destaque para o Polo de Atendimento da Upa da Vila Xavier, onde foram entrevistados médicos, enfermeiros e pacientes.

Confira abaixo a reportagem na íntegra.

Libération, Segunda 28 de setembro de 2020.

Seção Mundo

BRASIL: Araraquara faz a resistência ao Covid-19

No estado de São Paulo, duramente atingido pelo vírus, uma cidade se apresenta melhor do que as outras. Ao contrário da política de Bolsonaro, o município de esquerda criou uma triagem em massa, que isola e cuidar rapidamente dos doentes

Por Chantal Rayes
Enviada Especial em Araraquara (Brasil)
Fotos: Victor Moriyama

Aqui está a “capela”, como dizem os médicos de Araraquara, cidade de 236.000 habitantes do estado paulista que é distinguida em sua luta contra o Covid-19. Nessas instalações do templo Mórmon, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, possui uma ala inteira foi reservada para os doentes.

Instalados na sala sacramental, os 20 leitos de observação estão quase todos ocupados. Os mórmons de Araraquara não têm pouco orgulho desse gesto cívico: cedendo seu local de culto, eles permitiram que a cidade expandisse a capacidade de seu centro de acolhimento para os enfermos do coronavírus, a “UPA Vila Xavier”.

O prefeito, Edinho Silva, é uma estrela em ascensão do Partido dos Trabalhadores (PT), que governou o Brasil de 2003 a 2016. Ele prevê uma epidemia ainda longa, que não pausa “antes de dezembro”: “Demoramos para descer a curva, o país estagnou-se em um platô elevado.”

O Brasil ocupa o terceiro lugar em número de casos positivos (mais de 4,7 milhões), mas o segundo por mortes (141.441), cujo um quarto somente no estado de São Paulo. Depois das grandes cidades, agora é o todo estado que sofre. Araraquara menos do que em outros lugares, é verdade.

A taxa de mortalidade da Covid-19 (1,1%) é três vezes abaixo da média nacional, graças à triagem em massa que permite isolar e lidar rapidamente com pessoas infectadas. Em um Brasil que testa pouco, isso não é comum. Aqui, todos os pacientes apresentando sintomas são diagnosticados com um teste de PCR (que detecta a presença de vírus no corpo no momento preciso da triagem), que demonstra um dado raro no país, sete meses depois do início da epidemia.

“Corre-Corre”

A fabricante brasileira de aeronaves Embraer, com sede na região, doou mais de 15.000 kits à cidade. Com a aceleração do vírus no mês passado, foi preciso comprar alguns também.

Hoje, Araraquara tem aproximadamente 9.000 diagnósticos de PCR por 100.000 habitantes, mais de quatro vezes a média brasileira. Taxa que sobe para 13.000, uma vez incluídos os testes antigênicos e as sorologias. “Estamos testando mais do que a Alemanha”, exaltou o prefeito, enfatizando suas palavras. “Mais do que a Alemanha”.

Na UPA Vila Xavier, o dia está bastante calmo. “A correria passou, mas ainda recebemos cerca de 180 casos por dia”, diz Bruna Felisberto de Souza, enfermeira responsável pela coleta. No entanto, faltam cuidadores. Muitos deles, pertencentes a grupos de risco, foram removidos por ordem judicial após a morte de um socorrista. Substituí-los tornou-se um desafio.

Os médicos cubanos, que estavam presentes em grande número em Araraquara, são extremamente escassos. Edinho Silva era ministro de Dilma Rousseff quando a herdeira de Lula, deposta em 2016, os enviou para ‘desertos médicos’. Fizeram as malas logo após a eleição, no final de 2018, de Jair Bolsonaro, que os acusou de proselitismo comunista…

“Positivados”

Um homem de meia-idade chega em uma cadeira de rodas. Ele sufoca, vermelho. O cotonete na narina, uma jovem esboça uma careta de dor. “Vocês serão comunicados em 48 horas se forem positivados”, anuncia a enfermeira. Em seguida, iniciou-se o acompanhamento dos pacientes, ao qual a Libération pôde acompanhar por dois dias.

A equipe do chamado “bloqueio” está posicionada em frente a um prédio que ao fundo possui uma plantação de cana-de-açúcar, como vemos tantas na região paulista. Mitre, 23 anos, desce, sem fôlego por trás da máscara. Ela recebeu o diagnóstico no dia anterior. A enfermeira a faz assinar uma “notificação de auto-isolamento”, de acordo com uma ordem do Ministério da Saúde, e relembra suas recomendações: “Ah, e não separe mais o lixo. É preciso evitar infectar o catador” que coleta tudo o que pode ser reciclado. Epidemia e ecologia não andam de mãos dadas…

Durante todo o período de isolamento, os positivados são acompanhados por telefone. Como Wesley, 26 anos. “Está tudo bem?”, pergunta a doutora Flávia Miranda, do serviço de Vigilância Epidemiológica. “Você não teve febre? Sem dificuldades respiratórias? Fique alerta.” Aqueles com mais de 45 anos são monitorados em casa. “Já tivemos mortes nessa faixa etária”, explica a Dra. Talitha Resende Martins, do serviço de prevenção. O Brasil rejuvenesceu a Covid.

Maria José da Conceição ainda não completou seus 57 anos. Ela é uma senhora bem vestida com maquiagem nos olhos e unhas pintadas. A Dra. Dianinny Mendes examina seus pulmões e mede a saturação com oxigênio: “Tudo está normal.”

A equipe bate na porta da Maria Edileusa, uma mulher alegre que se queixa de “uma diarréia”. Na verdade, o Covid-19 poderia ter sido pior, segundo ela. “Eu dizia: se eu pegar o vírus, eu morro! Mas Deus está no comando”.

O SUS também, admite voluntários. O SUS é a rede pública de saúde, cujas falhas geralmente são notadas, mas que está sendo reconhecido seu valor com a epidemia. “Por causa da sua idade e do seu diabetes, sugiro que você entre no hospital preventivamente”, diz a Dra. Mendes. “Assim, se o seu estado piorar, você já estará lá”. Tudo é feito para evitar um agravamento, que pode ser fatal, e o congestionamento das unidades de terapia intensiva.

“Quebrando o ciclo”

Ainda assim, o número de infectados – 4.198 no sábado, incluindo 46 mortos – continua aumentando em Araraquara, e não apenas porque, como diz Edinho Silva, “quanto mais testamos, mais casos encontramos”. “A epidemia ainda não está controlada no país”, observa Domingos Alves, professor da Universidade de São Paulo, que especifica que o desconfinamento progressivo obedece sobretudo a requisitos econômicos. “Nada está sendo feito para impedir o contágio de portadores assintomáticos, nem em Araraquara nem em outro lugar.”

Com a aceleração do vírus, a cidade teve igualmente de restringir sua política de rastreamento de casos de contato. “Só fazemos isso nas empresas, pois agora temos muitos pacientes”, diz um médico.

No estado de São Paulo, Araraquara é a cidade que menos respeita a quarentena ainda pouco restritiva imposta desde março (embora em graus diferentes) em todo o país. O prefeito vê, “paradoxalmente”, o efeito de suas medidas contra a doença. “O hospital de campanha fica na entrada da cidade. Pessoas compreenderam que não ficarão sem leitos se estiverem infectadas.”

E então, ciente disso, como todos os brasileiros, seus cidadãos “não aguentam mais ficar em casa”. “Um confinamento mais curto, mas mais severo, teria sido melhor para quebrar o ciclo de contágio”, continua. “No entanto, as condições políticas não existiam. Não houve unidade nacional nem estratégia coordenada de combate à epidemia. Caso contrário, a situação seria bem diferente no país”.

Fatalidade

Jair Bolsonaro se opõe às medidas de isolamento preconizadas pelo seu próprio governo. Seus apoiadores protestaram aqui, e Araraquara se encontrou no centro da politização do vírus pela extrema-direita.

“Os bolsonaristas viram em nosso modelo a prova de que ‘isolamento era desnecessário, já que temos poucas mortes de Covid-19’”, continua o prefeito, a quem todos chamam carinhosamente pelo primeiro nome. “Porém, se a mortalidade é baixa, apesar da falta de quarentena, é graças à estratégia implantada contra o vírus”.

O prefeito disputará o quarto mandato municipal em 15 de novembro. Para ele, o coronavírus, que já matou quase três vezes mais brasileiros do que a sangrenta guerra do Paraguai (1864-1870), forçosamente marcará a campanha. Mas as pesquisas não provam que ele está certo. Em um país onde se pode morrer de forma violenta, a doença é vista como uma fatalidade. E apesar de sua gestão desastrosa da crise, Bolsonaro continua popular, graças aos auxílios sociais aos 67 milhões de trabalhadores informais (um terço da população) para atenuar o impacto econômico da epidemia.

O carismático prefeito sorri. “Sou um sobrevivente do sentimento anti-PT” que impulsionou o ex-militar ao poder. As últimas eleições municipais, disputadas há quatro anos em plena investigação anticorrupção dirigida a Lula e seu partido, foram um massacre. Naquela época, o Partido dos Trabalhadores havia conquistado apenas três municípios com mais de 200 mil habitantes. Araraquara, ainda uma cidade conservadora, é uma delas.

No Brasil, o futebol faz milagres: “Edinho Silva certa vez defendeu o clube local, o que lhe permitiu superar as divisões políticas”, analisa o cientista político Milton Lahuerta. “E sua gestão frente ao coronavírus restaurou sua imagem.” Mas para seu principal adversário, o candidato de direita Coca Ferraz, “Araraquara não tem se saído melhor que as cidades vizinhas”. As urnas decidirão.

Tradução: Gilsamara Moura.

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