Vinte mulheres negras são homenageadas com o Prêmio Drª Rita de Cássia - Edinho Silva
Seta topo ações contra a covid-19

Vinte mulheres negras são homenageadas com o Prêmio Drª Rita de Cássia

No início da noite desta sexta-feira (23), o Paço Municipal foi palco da entrega do Prêmio Drª Rita de Cássia, atividade que encerrou a programação do “Julho das Pretas”, que teve início no dia 7 de julho e trouxe debates públicos virtuais sobre diversas temáticas que envolvem a mulher negra. A programação presta homenagem ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, comemorado em 25 de julho. No Brasil, é também Dia de Tereza de Benguela, líder quilombola mato-grossense símbolo da resistência negra no Brasil Colonial.

O prefeito Edinho participou da cerimônia que promoveu a entrega de certificados para 20 mulheres homenageadas que se destacaram profissionalmente ou prestaram trabalhos relevantes na área social, proporcionando visibilidade à mulher negra. A organização uniu as premiações dos anos de 2020 e 2021 pelo evento ter sido suspenso no ano passado por conta da pandemia da Covid-19. Após a premiação, a cerimônia contou com uma projeção das imagens das premiadas no prédio da Prefeitura.

Para Edinho, a premiação leva uma simbologia muito importante porque diz o que o governo espera da construção de uma nova organização social da cidade. “Só as mulheres negras sabem a dor de carregar no corpo e na alma as marcas do preconceito e da discriminação. Por mais que possamos fazer o exercício da empatia de nos colocarmos nesse lugar, só elas sabem a dor de carregar ao longo da vida uma luta contínua pela igualdade”, destacou.

O prefeito afirmou também que a busca por uma sociedade igualitária depende desse reconhecimento. “A mulher é vítima de preconceito, o homem negro é vítima de preconceito, mas não tem ninguém nesse país que sofra mais com preconceito que a mulher negra porque ela carrega a marca do preconceito racial e a marca do preconceito de gênero. Muitas vezes ela é vítima do preconceito do próprio homem negro. Portanto, a simbologia da construção de uma sociedade realmente igualitária é quando as mulheres negras não conviverem mais com nenhuma forma de preconceito e discriminação. Aí sim estaremos caminhando para a construção da sociedade igualitária dos nossos sonhos”, completou o prefeito.

Luta da mulher negra
A coordenadora de Política Étnico-Raciais, Alessandra Laurindo, salientou que o prêmio tem uma importante função para dignificar as mulheres que driblam o racismo diariamente. “Esse prêmio é de suma importância porque leva o nome da Drª Rita de Cássia, que foi uma ativista do movimento negro em Araraquara, uma verdadeira guerreira no combate ao racismo. Esse prêmio simboliza a luta e o enfrentamento que devemos ter diuturnamente para provar porque uma mulher negra precisa receber um prêmio. Quero agradecer imensamente por aceitarem esse prêmio e principalmente por entenderem que essa luta é de todos os dias, é de todos nós, e que Araraquara vai enfrentar esse racismo com a ajuda de vocês e com a ajuda das pessoas não negras, porque precisamos de aliados nessa luta. Parabéns pelo significado real que cada uma de vocês traz dentro de suas trajetórias”, explanou.

Para Fábio Mahal, representante do Conselho Municipal de Combate à Discriminação e ao Racismo, esse é o segmento populacional que mais sofre na nossa sociedade. “Viemos de uma sociedade escravocrata, que nunca enxergou o negro como ser humano, tanto religiosamente quanto civilmente. É muito recente enxergar o negro como um cidadão, como um indivíduo, e a mulher negra, historicamente, é certamente aquela que mais sofreu. Por outro lado, ela é quem sempre foi responsável pela educação, inclusive das crianças brancas, e até amamentava crianças brancas. Então ao mesmo tempo em que essa mulher sustentava uma sociedade, ela não tinha visibilidade”, explicou.

A coordenadora de Políticas para Mulheres, Gabriela Palombo, falou sobre a iniciativa. “É uma programação bastante consistente que busca fazer jus ao movimento que ganha bastante força no Brasil. Esperamos fazer dessa data uma referência da resistência, mas também marcar tudo aquilo que é de positivo e de forte na história e na vida das mulheres pretas, porque do ponto de vista das mazelas, vemos diariamente a crueldade e o reflexo das injustiças sociais na vida de cada uma. E esse mês tem como característica valorizar e ressaltar aquilo que traz força e que faz a diferença, que ajuda a resistir”, justificou.

Para a secretária municipal de Direitos Humanos e Participação Popular, Amanda Vizoná, esse é um momento muito importante para a cidade. “Esse prêmio é uma das coisas mais bonitas que já vi em toda a minha vida. É uma das solenidades que mais representam esse país, que mais representam a América Latina porque justamente traz visibilidade para as maiores dores e alegrias que a gente tem, que é a visibilidade para a dor e alegria de ser mulher preta em uma América Latina que matou, que estuprou, escravizou, mas que hoje deve muito a essas mulheres. Eu, como mulher branca e aqui como Prefeitura, institucionalmente, queremos reconhecer essa dívida histórica porque a América Latina e o Brasil se construíram através da força, do sangue e do leite de mulheres negras”, disse.

A vereadora Thainara Faria (PT), que representou a Câmara Municipal e que também foi uma das homenageadas, lembrou de sua convivência com a Drª Rita de Cássia e exaltou a luta das mulheres pretas diante da discriminação racial. “Só queremos nosso lugar de direito. Por isso meu compromisso é de lutar até o fim da minha vida para combater a discriminação racial que fez da minha mãe vítima da violência doméstica, que fez ela trabalhar em três, quatro empregos para colocar o mínimo de dignidade dentro de casa. A gente não quer ser dez vezes melhor, o nosso melhor já é suficiente. Por que temos que trabalhar e sofrer mais que todo mundo? Hoje é mais um passo para o nosso ‘basta’, para o nosso ‘chega’ e daqui muitas outras se levantarão”, reforçou.

Transmitida ao vivo pelo canal da Prefeitura no Facebook, a atividade é uma realização da Coordenadoria de Políticas Étnico-Raciais e da Coordenadoria de Políticas para Mulheres, com o apoio do COMCEDIR (Conselho Municipal de Combate à Discriminação e ao Racismo) e do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres.

Também estiveram presentes a coordenadora executiva de Projetos Esportivos de Inclusão Social da Secretaria de Esporte e Lazer, Roseli Gustavo; os vereadores Fabi Virgílio (PT) e Guilherme Bianco (PCdoB); a assessora Especial de Políticas LGBTQIA+, Erika Matheus.

Drª Rita de Cássia
O Prêmio Drª Rita de Cássia foi instituído em 2016. Rita de Cássia nasceu em Marília em 1965, mas foi em Araraquara que passou grande parte da vida, advogando e militando pelos direitos da mulher negra. De família pobre e negra, lutou muito para realizar seu sonho de fazer faculdade, formando-se advogada em 1991. Sua carreira foi pautada pela defesa das minorias e pelo combate ao racismo e à discriminação religiosa.

Presidiu a Comissão da Igualdade Racial da OAB Araraquara, foi voluntária do SOS Racismo do Centro de Referência Afro, e integrante do Comcedir (Conselho Municipal de Combate à Discriminação e ao Racismo) e do Intecab (Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro Brasileira). Seguindo os exemplos de sua bisavó Marina, sua avó Pedrina e de sua mãe Marina, tornou-se uma mulher negra consciente de sua posição e da necessidade de lutar para que fosse reconhecida e respeitada por todos. Rita de Cássia faleceu no dia 6 de junho de 2016.

Homenageadas Prêmio Drª Rita de Cássia (2021):

• Edna Andrade Lacerda
Primogênita, com 12 anos teve que abandonar os estudos para cuidar da casa e de quatro irmãos mais novos. Cresceu em meio ao movimento Sem Terra, estando sempre engajada a diferentes militâncias, fundando a Associação de Mulheres Camponesas. Teve que lutar contra o patriarcado machista para permanecer na terra. É referência para muitas jovens por sua história de luta e por produzir sem veneno, ensinando a todos o respeito pela terra e o orgulho em ser agricultura. Durante a pandemia contribuiu ativamente doando alimentos aos mais necessitados.

• Esmeralda Gomes de Palma
Nascida em São José do Rio Preto, veio para Araraquara e se instalou na Vila Melhado há 60 anos, residindo na mesma casa até os dias atuais. Trabalhou a vida toda como doméstica e ajudou a construir a comunidade da Vila Melhado, atuando na igreja, ajudando aos mais necessitados e formando vínculos de respeito que lhe garantem admiração e carinho por todos os moradores do bairro. Mãe solo, formou exemplar família composta por seis filhos, cinco netos e cinco bisnetos.

• Graziela Aiola Valerio Alves
Casada, mãe de dois filhos – Otto e Bernard – e moradora de Araraquara, Graziela iniciou na área da Saúde em 2004 como auxiliar de enfermagem em hospitais do município. Permaneceu dez anos como auxiliar de enfermagem em duas Unidades de Saúde da Família, em São Carlos. Voltou para Araraquara em 2017 quando ingressou no cargo de Enfermeira, atuando em três unidades de saúde. Desde o início da pandemia tem auxiliado no combate a COVID -19 e, atualmente, é Gerente Executiva da Vigilância Epidemiológica.

• Ivani Aparecida Torres Azevedo
Casada com Luís Antonio Azevedo há 35 anos, tem dois filhos formados. É professora aposentada e desenvolveu vários projetos culturais envolvendo crianças. Também foi voluntária à frente de um projeto de alfabetização de adultos funcionários da CTA. Trabalhou na ONG FONTE com atividades culturais para todas as idades. Atuou recentemente no Conselho Tutelar e, atualmente, participa do conselho da APEOESP.

• Leocardia Cristina Reginaldo da Cruz
A araraquarense é a primogênita de Maria do Carmo de Benedito da Cruz. Sua trajetória tem como referência os saberes ancestrais de grandes mulheres negras que sempre prezaram pela Educação. É a primeira Mestra na área da Educação da família. Idealizadora do canal Práticas Pret@gogicas. Atua na área da Educação Básica nos anos iniciais, há 22 anos. É pesquisadora, autora e palestrante na área da Educação das Relações Étnico- Racial no espaço escolar.

• Luzia Ferreira dos Santos
Neta de avô materno escravo liberto e avó materna filha bugre. Migrou para Araraquara em 1970. Conheceu primeiramente a Umbanda em 1975, começou a cambonear a partir dos 12 anos de idade e começou sua trajetória como médium no terreiro em 2007. Foi em 2014 que Luzia conheceu o Candombl, onde finalmente encontrou sua religião afrodescendente iniciando-se no Santo, filha de Mametu Nepanzu, mãe que a acolheu e que tem muito orgulho.

• Maria Aparecida da Silva
Sua vida é marcada pela luta por um pedaço de terra. Maria Aparecida chegou em Araraquara em 1998, quando conseguiu seu tão sonhado lote no Assentamento Monte Alegre e, lá, com mais companheiros de luta, começou a construir o que hoje conhecemos. Sempre pronta para ajudar no que for preciso na comunidade, atua na saúde da família como agente comunitária.

• Marilda Martins Amaral (homenagem póstuma)
Esteve entre as pioneiras na década de 60, que remonta ao início da celebração do Carnaval de Rua em Araraquara. Uma entusiasta das festividades carnavalescas, Marilda teve sua história marcada por grandes participações nas escolas de samba da cidade. Mãe de seis filhos e avó de vinte netos, Marilda faleceu em abril deste ano, aos 83 anos, deixando seu legado e sua contribuição na cultura araraquarense.

• Matilde do Carmo Monteiro
Nascida em Araraquara, possui três filhos, cinco netas e um neto. Trabalhou por muitos anos na lavoura e sempre ajudava a mãe nos cuidados das crianças do Cristo Rei. Lá aprendeu a importância de sempre ajudar o próximo. Atualmente é voluntária na Casa da Sopa. Sempre foi muita prestativa no auxílio aos mais necessitados.

• Thainara Faria
Vereadora reeleita do PT de Araraquara e advogada, Thainara tem 26 anos. É a primeira mulher negra a assumir uma cadeira no Legislativo Municipal. Seu mandato trabalha para garantir os direitos sociais. Defende os direitos das mulheres, negros, comunidade LGBTQIA+ e juventude. Também atua na proteção e promoção dos direitos da criança e do adolescente.

As homenageadas do ano de 2020 são:

• Claudete Aparecida Ferreira Silva
Nascida em Araraquara. Se dedicou a família. Trabalhou por 10 anos no Parque Infantil e por 18 anos no CER. Dona Eloá do Valle Quadros, como servente. No início da Academia do Samba, quando o esposo foi um dos diretores, fazia salgados pra vender e gerar renda para o Clube. Se dedicou a criação de 6 filhos, 14 netos e 5 bisnetos.

• Mãe Cecília – Mametu Nepanzu
Nasceu no sul da Bahia, na cidade de Ilhéus. Neta e filha de mães-de-santo. Por viver numa região muito pobre, aos 13 anos migrou para a cidade de São Paulo, indo trabalhar como empregada doméstica. Em 1990 construiu sua roça de Candomblé, que em 1994 veio a se chamar Mansu Bangolepanzu, e Arararaquara. Dedicou sua vida exclusivamente ao Candomblé, sempre preocupada em preservar as tradições afro-brasileiras, cunhadas por sua ancestralidade, nas senzalas de todo o Brasil.

• Iara Galdino Ramos
Trabalha como autônoma vendendo verduras e doces. Atua como faxineira duas vezes na semana. Profissional da área de gastronomia, cum cursos de panificação, confeitaria, barmam, pizzaiolo e salgadeira. Completei ensino médio. Tem 42 anos, casada, tem 01 e 02 netos. Moradora do Parque das Laranjeiras.

• Nayara Amaral da Costa
Tem 29 anos, advogada e assessora legislativa na Câmara Municipal de Araraquara, no mandato da vereadora Thainara Faria. Tem a honra de pertencer a uma família muito presente nas ações da comunidade negra. Na graduação estudei sobre saúde da população negra, tendo o projeto premiado como maior relevância social do tema dentre todos do curso de direito, de uma instituição privada e elitista. É presidente da Comissão de Combate à Discriminação Racial da OAB Araraquara, antiga Comissão de Igualdade, antes liderada pela querida Dra. Rita de Cássia.

• Estarlete Aparecida Fernandes Pereira
Mulher negra, natural de Araraquara. Tem 05 irmãos (um falecido), criados pelos pais até que se separassem. Neste momento, a mãe quem conduziu sozinha a educação e foi responsável pela formação profissional dos filhos.  Concluiu o curso de Direito através do PROUNI. Hoje é advogada e está se reabilitando pois foi vítima de tentativa de feminicídio. Apoia causas voltadas ao racismo, assim como causas que acolhem mulheres fragilizadas por terem sofrido agressões de seus companheiros.

• Ester Vilela Rosa Vaz
Natural de São Carlos, casada há 34 anos com Luís Geraldo Vaz e mãe de Felipe e Mariana. Formada em Artes Plásticas e Educação Artística ministrou aulas em escolas públicas e particulares, com destaque ao Sesi que trabalhou efetivamente nas cidades de Itirapina e São Carlos. Moradora em Araraquara há mais de 20 anos, atuou na criação do Grupo Ônix, que era formado, prioritariamente, por mulheres negras de Araraquara. Mais tarde foi fundadora do Jornal da Consciência Negra. Atualmente, desempenha como atividade principal aulas de artesanatos para grupos pequenos e grandes.

• Eva Aparecida Couto
Tem 68 anos, separada, filha de Alzira Cardoso Couto e Benedito Andreza Couto. Nascida em Araraquara, é pedagoga aposentada e tem uma filha, Alessandra Rosa Lima. Atuei no magistério durante 31 anos, na Educação Básica e Infantil. Desde que se aposentou, tem priorizado atividades esportivas e trabalhos voluntários. Faz parte da União Espírita Pascoal Grossi e do Conselho do Fundo Social de Solidariedade. Também representa os atletas da terceira idade da Fundesport.

• Maria Aparecida de Souza
Nascida em Ouro Verde/SP, hoje mora no Assentamento Bela Vista. Tem 63 anos, é separada do marido há mais 30 anos. Tem 03 filhos 06 netos e 1 bisneta. Criou seus filhos com a ajuda de seus pais e irmãos. Faz parte da comunidade no Assentamento, na Associação de Mulheres. Já foi catequista, fez parte da Pastoral da Criança e da Pastoral de Idoso. Ajudou a favela de Campinas com alimentos. Sempre disposta a ajudar a todos com amor.

• Tatiane Cristina dos Santos
Nascida em Araraquara, tem 32 anos. Filha de Zenilda de Souza e José Francisco Tomé dos Santos e mão de Rayanne. Mulher negra umbandista de berço. Dirigente da Tenda de Umbanda Índio Pedra e Cabloca Cati. Mulher negra, que nasceu em um lar humilde, mãe aos 18 anos, solteira, umbandista, nunca desistiu de seguir em frente buscando sempre a sua evolução como ser humano. Aprendeu a louvar os orixás e não se deixar abater pela dor, que a luta é constante, mas não devemos nos vitimizar com os obstáculos da vida.

• Ana Lúcia Maia de Oliveira
Nascida em Américo Brasiliense, integrante de uma família simples, com 14 irmãos. Formada em Pedagogia em 1983, prestou concurso como professora na cidade de Araraquara. Trabalhou 18 anos na Sadia, em Américo Brasiliense, e, em 1984 foi chamada no concurso para professora em Araraquara, onde trabalhou 35 anos. Casada, tem duas filhas, um sobrinho e quatro netos. É aposentada, mulher negra, participou de todas as manifestações do SISMAR de Araraquara e ama a cidade.




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