Prefeitura abre programação do “Mês Elza Soares” e inaugura biblioteca de estudos de gênero

Uma solenidade no Centro de Referência da Mulher (CRM) “Heleieth Saffioti”, na noite de terça-feira (8), marcou o Dia Internacional da Mulher, abriu a programação do “Mês Elza Soares” e inaugurou a Biblioteca de Estudos de Gênero “Profª. Drª. Lucila Scavone”.

A biblioteca, que fica em espaço dentro do próprio CRM (Avenida Espanha, nº 532, Centro), é formada por 1.001 publicações doadas pela professora Lucila Scavone, que atualmente reside na França e é uma referência em estudos de gênero. É o primeiro espaço da cidade destinado a quem deseja se aprofundar nesse tema.

A atividade abriu a programação especial do Mês da Mulher, que neste ano faz homenagem à cantora brasileira Elza Soares, falecida em 20 de janeiro. Elza levava suas plateias a clamarem pelos direitos das mulheres por meio de canções marcantes inspiradas em sua própria história.

O “Mês Elza Soares” conta com diversas atividades culturais, rodas de conversa, oficina de capacitação e corrida de rua, entre outras atrações. A programação foi desenvolvida pela Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular e pelo Centro de Referência da Mulher.

O evento do 8 de março no CRM ainda teve um tributo a Elza Soares, com os músicos Iuna Tuane e Fabiano Marchesini, e uma apresentação cultural de alunas da Escola Municipal de Dança Iracema Nogueira, intitulada “Mulher do Fim do Mundo” e interpretada por Maria Carolina da Silva Marques Gouveia e Verônica do Valle de Castro, sob orientação de Vivian Tavares.

“Hoje estamos aqui com esse jardim do Centro de Referência da Mulher tomado de mulheres engajadas, cada uma trabalhando pelos direitos das mulheres da sua forma, falando de Elza Soares e materializando uma vontade de transformação da professora Lucila Scavone. É um 8 de março carregado de simbologia e que nos inspira. Muitas mulheres lutaram desde o início do século XX e morreram para que o 8 de março fosse construído. E a ONU foi obrigada a reconhecer o Dia Internacional das Mulheres. Um dia construído com luta e entrega. É preciso um pacto de todos nós para a construção de políticas públicas para derrotar o machismo e todas as formas de preconceito”, afirmou o prefeito Edinho.

O prefeito recordou a atuação da professora Lucila Scavone, doadora do acervo de livros. “É muito difícil nós entendermos a construção do pensamento crítico, de todo o conteúdo que embasou lutas e políticas públicas, sem entendermos o papel da Lucila. Uma intelectual robusta, sólida, mas que não entendia sua vida acadêmica sem ter interlocução com os movimentos sociais e sem retornar para a sociedade aquilo que ela acumulava como conhecimento. A Lucila teve papel importantíssimo na construção dos movimentos sociais de luta pelos direitos das mulheres em Araraquara. Essa biblioteca é muito simbólica”, disse.

A coordenadora de Políticas para Mulheres da Secretaria de Justiça e Cidadania do Governo do Estado, a ex-vereadora Edna Martins, que fundou o pioneiro “Cedro Mulher” em 1994 para acolher mulheres vítimas de violência, participou do evento e destacou o simbolismo do 8 de março na luta por direitos iguais.

“As mulheres continuam recebendo 70% do que recebem os homens nas mesmas funções, continuam sendo assediadas no trabalho, violentadas dentro de casa, assediadas no transporte público. As mulheres encontram dificuldades para ser reconhecidas em termos de igualdade com os homens. As mulheres vivem violência política e não têm o mesmo suporte dos homens. Somos 52% do eleitorado e temos representação de 15% no Congresso Nacional, uma governadora apenas no País”, afirmou Edna.

“Estamos trazendo uma Casa da Mulher Paulista para Araraquara, considerando a história de Araraquara, que é uma referência em políticas para mulheres. Tem estrutura, tem comprometimento, tem militância. Eram 20 Casas da Mulher e a maioria dos municípios do estado solicitou. Estamos entregando mais 43 Casas da Mulher e temos outras 17 estruturas de atendimento na Grande São Paulo”, anunciou a coordenadora.

A secretária de Direitos Humanos e Participação Popular, Amanda Vizoná, relatou a felicidade de estar abrindo a programação do “Mês Elza Soares” e de estar inaugurando a nova biblioteca. “A gente poder disponibilizar para a cidade de Araraquara esse acervo, que é incrível, deixa a gente muito feliz. Para o 8 de março de Araraquara, não haveria nada melhor. É preciso ainda lutar muito. Mas hoje, com o lançamento da biblioteca de Lucila Scavone, nós sentimos que estamos vivas e com muita força.”

Alessandra Dadona, coordenadora municipal de Políticas Públicas para Mulheres e coordenadora do Centro de Referência da Mulher, destacou que o 8 de março nasceu na luta operária, na reivindicação salarial e por direito ao voto. “É um dia para prestar homenagem às mulheres que vieram antes da gente, fazer uma reflexão sobre o momento que vivemos e se organizar para a luta, deixando o recado de que nós não voltaremos para trás”, declarou.

A professora doutora Grasiela Lima, socióloga especializada em relações de gênero, ressaltou que o momento é de luta e resistência. “Enquanto estamos aqui, quantas mulheres estão sendo agredidas e violadas nos seus direitos? Enquanto existir uma mulher violada em seus direitos, nós precisamos estar organizadas nesse enfrentamento”, opinou.

Representando a Câmara Municipal, a vereadora Filipa Brunelli (PT) lembrou que as mulheres possuem diversidades. “A gente precisa compreender que as mulheres não são iguais. Não podemos cair nessa armadilha. Somos divergentes, diversas, plurais. Somos mulheres pretas, brancas, travestis, cisgêneras, ribeirinhas, quilombolas, mulheres do campo, trabalhadoras, profissionais do sexo. Somos diversos tipos de mulheres. Essa diversidade nos fortalece. O que nos iguala é a força para resistir ao patriarcado e a misoginia”, destacou Filipa.

Em nome do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, Claudete Basaglia abordou a importância da data. “Agradeço a todas as pessoas que estão aqui neste momento. Eu cheguei ao conselho por uma indicação da professora Lucila. Tentei representar o melhor possível a sociedade civil. Aqui, a gente se fortalece para continuar nessa luta a favor das mulheres”, afirmou.

Também estiveram presentes no evento as vereadoras Thainara Faria (PT) e Fabi Virgílio (PT); as secretárias Clélia Mara dos Santos (Educação), Juliana Agatte (Governo, Planejamento e Finanças) e Jacqueline Barbosa (Secretária de Assistência e Desenvolvimento Social); coordenadores e gestores municipais; a vice-presidente da OAB 5ª Subseção de Araraquara, Clara Alvarenga; e Luciane Girasolo, representando o Sebrae Araraquara.

A programação completa do “Mês Elza Soares” pode ser consultada em página especial dentro do site da Prefeitura, em www.araraquara.sp.gov.br.

Direitos das mulheres
Lucila Scavone nasceu em Porto Alegre (RS), em 23 de abril de 1948, e é uma importante estudiosa nas questões de gênero, feminismo e direito das mulheres, com diversas obras e projetos de pesquisas publicados sobre esses temas.

Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 1971, possui extenso currículo acadêmico, como especialização em Métodos e Técnicas de Pesquisa em Ciências Sociais, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em 1972, é mestre em Sociologia Política e Antropologia pela Universidade de Paris (1976), doutora em Curso das Sociedades Latino Americanas pela Universidade Sorbonne Nouvelle de Paris (1980), pós-doutorada pelo Instituto de Pesquisa Interdisciplinar em Questões Sociais (INSERM – Paris) em 1991 e Livre-docência em Feminismo e Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho” (Unesp), câmpus de Araraquara, em 2001.

Professora titular na Unesp Araraquara desde 1988, Lucila contribuiu para a formação de gerações de mulheres intelectuais e feministas.