Entrevista para a revista "Isto É" na íntegra! - Edinho Silva
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Entrevista para a revista “Isto É” na íntegra!

Concedi uma entrevista ao repórter Germano Oliveira, da revista “Isto É”, n°2818 de 09/02/2024. Abaixo, confira a entrevista na íntegra, sem edição:

1) [GERMANO]: Como um dos maiores amigos do presidente, o senhor acha que ele tem se mostrado satisfeito com as realizações do governo neste primeiro ano do terceiro mandato?
[EDINHO]: De fato, tenho uma boa relação com o Presidente Lula, mas não estou no seu cotidiano, não participo cotidianamente do governo. Nas oportunidades em que estive com ele, se mostrou muito otimista com o governo. Está muito entusiasmado com a oportunidade de governar o país pela terceira vez. É nítida a sua “saga” em reconstruir as políticas públicas que mudaram para melhor a vida do povo brasileiro nos mandatos anteriores. Penso que neste primeiro ano, o balanço é muito positivo: a democracia saiu vencedora em 8 de janeiro, as instituições estão voltando à normalidade, mesmo com um orçamento elaborado pelo governo anterior, as políticas públicas estão em desenvolvimento, temos uma diretriz econômica para seguir, a economia foi bem em 23. Claro que ainda os desafios são imensos, mas para o primeiro ano o balanço é positivo, hoje temos um caminho para seguir, para aprofundar as iniciativas e corrigir o que for necessário.

2) [GERMANO]: Na condição de dirigente do PT há décadas, como o senhor avalia o governo Lula no primeiro ano do terceiro mandato. Ele conseguiu os avanços sociais que esperava ou o fato de ter pego, da gestão anterior, um País com terra arrasada atrapalhou seus planos?
[EDINHO]: Todos nós que participamos da coordenação da campanha de 22 sabíamos do país que seria herdado. O rombo orçamentário em decorrência das loucuras que foram feitas por Bolsonaro para ganhar as eleições já se explicitava durante a disputa, na transição, após a vitória. Os números eram desesperadores, 255 bi de restos a pagar para 23, no acumulado durante o governo, 800 bi de rombo nas contas públicas, 10% do PIB. Claro que enfrentar esse rombo nas contas, e ainda reorganizar as políticas públicas, gerar perspectivas de futuro para a população, não é tarefa simples. Temos que ter rigor na execução orçamentária, ter saldo para ir amortizando no tempo esse rombo, já que, se não tiver uma diretriz clara de gestão dessa conta, ela pesará sobre os ombros das futuras gerações. Mas também não podemos nunca perder de vista que o Presidente Lula foi eleito para fazer justiça social e gerar perspectivas de futuro para os 70 milhões de brasileiros que estão na pobreza. Esse equilíbrio precisa ser perseguido o tempo todo, é desafiador, mas está nesses desafios a arte de governar. O presidente Lula é o maior estadista da história brasileira.

3) [GERMANO]: A oposição diz que ele passou o ano viajando para o exterior, e se dedicando menos aos assuntos internos, mas o senhor acha que, como Bolsonaro deixou o Brasil na condição de pária internacional, ele precisava mesmo viajar mais pelo mundo para mostrar que o Brasil voltou?
[EDINHO]: Quem critica não faz por honestidade. Faz para ser oposição pela oposição. É a manifestação pequena da política, não construtiva. Não me incomoda e tenho certeza que nem ao presidente Lula. Construir imagem externa significa posicionar o país diante dos desafios globais, significa dar protagonismo ao Brasil, que é um gigante mundial, que é líder continental. Posicionar bem o Brasil significa dar visibilidade ao país para atração de investimentos, que é algo emergencial. O Brasil precisa urgente “se reindustrializar”. Temos que fomentar as novas cadeias produtivas do século XXI, além de recuperar as nossas potencialidades históricas, a nossa base produtiva. O Brasil precisa entrar forte na transição energética, na economia verde, nenhum país do planeta está tão bem posicionado como nós, sem investimento externo isso é impossível. Então, que o presidente Lula continue viajando e posicionando o Brasil no mundo.

4) [GERMANO]: Acredita que, neste ano, em função das eleições municipais, ele vai se dedicar mais às viagens pelo Brasil?
[EDINHO]: Já estamos vendo a agenda do presidente Lula priorizando as viagens internas, que é o que ele mais gosta, estar perto do povo brasileiro. Ele “se alimenta da energia e do calor dos brasileiros”, principalmente com o contato espontâneo, de rua, nas atividades. Mas ele não pode deixar de fazer viagens externas. Repito, o Brasil tem tudo para ser o catalisador dos investimentos internacionais na busca da sustentabilidade gerada pela economia verde. Qual país no planeta tem o potencial que o Brasil tem?

5) [GERMANO]: O senhor acha que Lula vai entrar de cabeça na campanha municipal, sobretudo nas cidades mais importantes, como São Paulo e Rio?
[EDINHO]: Ele deve participar da campanha municipal, mas com muito cuidado. São muitos aliados disputando prefeituras. A prioridade tem que ser a governabilidade do país. Claro, onde aliados no plano nacional optarem pelo apoio de lideranças do fascismo, do autoritarismo, da cultura golpista, o presidente Lula também ficará muito à vontade para apoiar quem possa derrotar essas forças.

6) [GERMANO]: Em São Paulo, o presidente praticamente impôs Guilherme Boulos, do PSOL, como candidato a prefeito, e Marta, do MDB, como vice. Por mais que Marta vá ingressar no PT, ela havia deixado o partido com críticas aos petistas há 9 anos. Até pelo impeachment de Dilma votou como senadora. Isso comprova que o PT não renovou suas lideranças?
[EDINHO]: Eu penso que o Brasil em 22 mudou sua configuração política. O fato de termos corrido um sério risco de retrocesso – flertamos com o autoritarismo, com o fascismo -, a concepção tradicional da disputa política mudou. A polarização fez com que tivéssemos a configuração de dois campos, os que defendem a democracia, a estabilidade institucional e os que incentivam o autoritarismo, o fascismo. Penso que avaliar as movimentações de hoje com o olhar anterior a esse processo não dá conta da realidade. Nessa concepção de aliados e adversários, cabe a Marta no campo democrático, cabe a sua volta para o PT. O seu legado dialoga com as nossas bandeiras históricas. Não que o passado será apagado, deletado, claro que não, algumas feridas ainda estão abertas, talvez em fase de cicatrização, mas a necessidade de união diante de um inimigo que tem base social, capacidade de aglutinação, mobilização, faz com que nesse momento histórico tenhamos a capacidade de buscar o que nos une e não o que nos separa. Não será fácil isolar o fascismo no Brasil, nem no mundo, existe um crescimento autoritário no planeta.

7) [GERMANO]: Outro exemplo de falta de novas lideranças é que, no Rio, Lula e o PT devem apoiar o prefeito Eduardo Paes (PSD). O senhor acha que lá o vice deve ser do PT? Há informações de que Paes pode ter chapa pura, com o deputado Pedro Paulo de vice. Nesse caso o PT apoiaria mesmo assim a chapa do atual prefeito?
[EDINHO]: Eu penso que não seja uma movimentação política por falta de lideranças. É a construção de um campo que seja capaz de derrotar as lideranças identificadas, ou que fortaleçam o campo apoiador do fascismo, do autoritarismo. Claro que o PT precisa fazer um esforço de renovação dos seus quadros. Eu também penso que estamos atentos a essa necessidade. Várias novas lideranças estão emergindo no partido. Temos que continuar valorizando as nossas bandeiras históricas, mas também temos que dialogar com as bandeiras do século XXI, que atraia mais lideranças jovens, como o desenvolvimento sustentável, o bem estar animal, o respeito à diversidade, os empregos de qualidade, o combate à precarização do trabalho; é impossível dialogar com a juventude sem por no centro a democratização da cultura, do esporte, do lazer. Penso também que o PT tem que levantar com muita força a bandeira da universalização da educação integral. Só teremos um Brasil justo, com igualdade de oportunidades, se a educação integral estiver implantada em cada comunidade brasileira.

8) [GERMANO]: Além dessas capitais, o PT está abrindo mão de cabeça de chapa também em Salvador (o candidato apoiado pelo partido deverá ser Geraldo Júnior, do MDB). O PT corre risco de, mais uma vez, eleger poucos prefeitos de capitais e cidades importantes, como aconteceu em 2020?
[EDINHO]: O PT passou por um processo muito difícil, fomos duramente atacados, foi a ofensiva midiática mais destrutiva que um partido político já sofreu no Brasil, por consequência, a recuperação do PT não será “por passe de mágica”. Uma parte da sociedade consegue refletir sobre as injustiças sofridas pelo PT, a eleição do presidente Lula também facilita a recuperação do partido, mas, mesmo assim, será um processo de no mínimo médio prazo, principalmente nos estados onde o bolsonarismo avançou. A necessidade de junção de forças para o isolamento das expressões políticas do fascismo, do autoritarismo, imporá ao PT a necessidade de construção de alianças onde necessariamente ele não seja o protagonista. O PT é o partido mais importante do país, mas ele terá que saber ler o momento histórico que vivemos, as vitórias virão, sem necessariamente termos a candidatura majoritária.

9) [GERMANO]: O que o partido deve fazer para renovar suas lideranças? Lula, que pretende disputar a reeleição, e tentar um quarto mandato, atrapalha esse processo de oxigenação partidária?
[EDINHO]: Eu penso que o presidente Lula deve disputar a reeleição em 26, só ele pode liderar esse processo que estamos vivendo de isolamento do fascismo, de derrota do autoritarismo. Não há hoje no Brasil uma liderança do campo democrático capaz de construir a unidade das forças democráticas. Ele reeleito, liderado por ele, a construção da sucessão deverá se dar com muita cautela, com todo o cuidado que o momento histórico exige. Todo o esforço de reconstrução da estabilidade institucional, de reorganização e construção das políticas públicas, tudo, de nada valerá, se o fascismo voltar ao poder. Tenho afirmado, inclusive está no meu livro “Uma Cidade Na Luta Pela Vida; da pandemia ao 8 de janeiro”, que muito vale o esforço do presidente Lula em implantar as políticas públicas de desenvolvimento, como o PAC, de inclusão social, como o Bolsa Família, mas, seu maior desafio é reunificar o Brasil, é isolar o fascismo. O crescimento do autoritarismo no mundo nos mostra que essa missão não é pequena, não é de um único partido, é de um campo democrático sólido.

10) [GERMANO]: Haddad até iniciou esse debate recentemente sobre quem seria o sucessor de Lula para a eleição de 2030, mas foi severamente criticado por Gleisi Hoffmann, presidente do partido. O senhor acha que Lula deveria mesmo ser candidato à reeleição? Os adversários podem dizer que ele está velho, cansado, etc., como acontece com Biden nos Estados Unidos?
[EDINHO]: Como disse, eu penso que o presidente Lula deve ser o candidato à reeleição, para o bem do Brasil, da América do Sul, para o mundo democrático. É fundamental que ele seja reeleito, que o campo democrático seja consolidado, que o Brasil mostre ao mundo que é possível derrotar historicamente a ofensiva mundial do autoritarismo, do fascismo nesse conturbado início de século XXI.

11) [GERMANO]: E, em 2030, quem são os bons nomes do partido para a sucessão de Lula? Fala-se muito até no nome da primeira-dama Janja da Silva. O senhor acha que ela tem perfil para exercer a presidência, como já ocorreu na Argentina no passado? Ela pode ser nossa Evita Perón?
[EDINHO]: Teremos bons nomes do campo democrático em 2030, mas ter nomes, escolher nome, não pode ser a prioridade, isso levaria ao risco a manutenção do campo democrático que propiciou a vitória de Lula em 22, e que tem que ser a base de sustentação da sua reeleição. Deixa que o processo de consolidação do campo democrático brasileiro “parirá o nome”. A Janja é uma figura pública lindíssima, uma mulher com posições explícitas, com pensamento próprio, que sabe o seu lugar e a força do lugar que ocupa. Tem muito de machismo quando tentam vincular as suas convicções, a sua militância, a “interesses obscuros”, ela é autêntica, e precisa ser respeitada como ela é. Ela nunca caberá no modelito tradicional do “primeiro damismo”, é isso que os críticos de plantão ainda não entenderam.

12) [GERMANO]: Muito se fala no nome do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como um nome palatável dentro do PT para ser candidato a presidente, pois, afinal, já foi o candidato em 2018 quando Lula estava na prisão e chegou, inclusive, ao segundo turno contra Bolsonaro. O senhor acha que o ministro larga na frente nessa disputa?
[EDINHO]: Eu penso que o Fernando Haddad está entre os maiores quadros da história do PT e da gestão pública. Está liderando a área mais sensível do governo neste início de mandato e está se saindo muito bem. Obteve vitórias importantes, inclusive demonstrando muita habilidade política. Se a economia não acumular vitórias, o governo Lula não sairá vitorioso. É um erro achar que existe governo “meio aprovado ou meio desaprovado”, o governo é um todo, ou é inteiro aprovado, ou será inteiro desaprovado. Penso que todos temos que estar unidos para que o governo Lula seja vitorioso e diminua a força do fascismo na sociedade brasileira, sem crescimento econômico isso será impossível. Todas as áreas do governo precisam estar fazendo entregas relevantes para a sociedade, mas sem estabilidade e crescimento econômico não haverá Lula 3 vitorioso.

13) [GERMANO]: Em 2023, o ministro da Fazenda foi um dos destaques do governo por ter conseguido vitórias importantes. A inflação ficou sob controle e dentro da meta, os juros começaram a cair, o desemprego despencou, a bolsa disparou, o dólar se estabilizou e até as notas do Brasil no exterior melhoraram, ampliando as condições para investimentos e novo crescimento do País. Sim, o cenário foi excelente, mas há nuvens pesadas para este ano, sobretudo quanto ao improvável déficit zero. Como o senhor avalia esse quadro? As perspectivas para 2024 são piores do que as de 2023? 
[EDINHO]: O cenário é de vitórias e do desenho de um caminho sólido que a economia deverá trilhar. Temos um caminho, o que não existia, está perfeito, acabado? Claro que não. Precisamos de ajustes, mas como já falei, e não pode ser esquecido, olha, temos que lembrar do cenário que nos foi deixado por Bolsonaro. Para acelerarmos o nosso ritmo nesse caminho, os juros precisam cair, de forma mais significativa, temos uma inflação abaixo de 5%, com juros de dois dígitos, não há discurso que justifique. Como você mesmo especifica na sua pergunta, os fundamentos centrais da nossa economia estão sólidos. Não há motivos para que os juros não caiam de forma mais acentuada. Claro que existe uma contaminação na economia brasileira gerada pela instabilidade internacional, pelos reflexos dos conflitos, pelo longo processo inflacionário dos preços internacionais, das commodities, por mais que as perspectivas sejam melhores, ainda pagamos “o preço da pandemia”. O Brasil também se ressente da estagnação econômica mundial. Considerando todos os fatores internacionais, que não temos gestão, as perspectivas são boas.

14) [GERMANO]: Economistas dizem que ao invés de impor novas taxas e tributações para obter mais dinheiro para equilibrar as contas públicas em 2024, o governo deveria cortar despesas. Por que é tão difícil ao PT cortar gastos?
[EDINHO]: Vou repetir aqui, fazer esse discurso ignorando o Brasil que o presidente Lula herdou não é correto, não é honesto. E também fazer um discurso de corte de gastos sem qualificá-lo, também não é honesto. Manter as políticas públicas que combatam as injustiças sociais tem que ser prioridade. Não podemos aceitar que haja “dois pesos e duas medidas”, quando muitos falam do Bolsa Família utilizam o conceito de gastos; o Bolsa família custa 168 bi, mas quando se fala das desonerações elas são classificadas como incentivo para cadeias produtivas, elas custam 188 bi ao povo brasileiro. Para efeito de qualificação do gasto público, o que tem mais alcance social? Utilizo esse exemplo apenas para desmistificar o que é gasto e o que é investimento. As finanças públicas precisam ser tratadas com muita responsabilidade, o equilíbrio receita/despesa precisa ser perseguido o tempo todo, mas não dá para os pobres continuarem pagando a conta, eles não têm mais como pagar. Nenhuma economia do mundo cresceu de forma sustentável sem tratar a justiça social como prioridade, sem distribuição de renda, sem gerar o mínimo de igualdade de oportunidades.

15) [GERMANO]: Para fazer um orçamento mais equilibrado e obter vitórias importantes no Congresso, como o Arcabouço Fiscal e a Reforma Tributária, entre outras coisas, o governo teve que ceder mundos e fundos para o Centrão. Distribuiu ministérios importantes, muitos cargos no governo, mais de R$ 50 bilhões em emendas, etc. Mesmo assim, os parlamentares continuam chantageando o presidente por mais vantagens. O senhor acha que Lula ficou ainda mais refém do Congresso do que Bolsonaro era?
[EDINHO]: Temos que entender que o modelo de governabilidade instituído pós reforma constitucional de 88 mudou. Os governos que sucederam a nova carta desenharam o modelo governabilidade de coalizão, era um modelo híbrido, um presidencialismo com características parlamentaristas, foi isso que a CF de 88 estabeleceu. Os governos Temer e Bolsonaro propiciaram as condições políticas para que uma reforma silenciosa se impusesse, o primeiro por falta de legitimidade, o segundo por inaptidão, mas ambos entregaram atribuições do presidencialismo ao Congresso. Ainda haveremos de conceituar o modelo de governo existente no Brasil, só não é presidencialismo, nem mesmo o presidencialismo com características de parlamentarismo parido em 88. Pragmaticamente, é impossível governar o Brasil sem a adoção do modelo de governabilidade do parlamentarismo. Sempre será necessário a construção de coalizões partidárias e as mesmas têm que estar refletidas no governo.

Temer e Bolsonaro que foram governos fracos, reféns, executivos com baixa vocação de execução. Cabe aqui uma distinção, Bolsonaro era um presidente com capacidade de mobilização, com base social, mas totalmente inapto para a prática de executar, de exercer o poder executivo. Lula não só é um presidente socialmente forte, politicamente forte, com muita capacidade de mobilização, mas também é um presidente que gosta de governar, de executar. O desafio é achar o ponto de equilíbrio, até onde o Congresso, o parlamento, vai exercer atribuições do poder Executivo sem inviabilizar o programa de governo que foi eleito nas urnas, sem afrontar a vontade popular expressa nas últimas eleições. A construção desse equilíbrio é urgente.

16) [GERMANO]: É impossível governar sem o Centrão?
[EDINHO]: É impossível governar sem coalizão. Pós 88 já era, hoje, pós-Temer e Bolsonaro, é impensável. Essa é a realidade brasileira hoje.

17) [GERMANO]: O senhor acha que o fato de o Congresso ser mais bolsonarista, e de direita, o governo do PT deveria caminhar ainda mais para o centro, procurar os evangélicos e agropecuaristas, por exemplo, deixando de lado dogmas e mágoas do passado?
[EDINHO]: Penso que são duas questões distintas. A primeira, o agronegócio, para mim, essa contaminação política não reflete a realidade. Em todos os governos Lula o setor foi muito valorizado e incentivado. E não há como ser diferente, estamos falando de 25% do PIB brasileiro. Já no primeiro ano do governo Lula foi destinado 364 bi para o plano safra, 30% maior que no governo Bolsonaro. Qual o problema do presidente Lula, do PT, com o agronegócio? Nenhum. Não passa de contaminação sem lastro na realidade. Os evangélicos, sim, aí temos um problema. Penso que a polarização política fez com que o debate de valores assumisse centralidade para uma parcela da população, onde os evangélicos são predominantes. Debater valores movidos pela fé é muito difícil, não há racionalidade, fé não se debate, é crença. O Brasil sempre foi um país que conviveu com a diversidade, seja ela regional, cultural, de raça, ou religião, essa diversidade sempre foi fator determinante na formação da nossa identidade como povo. A polarização política fez com que uma parcela da sociedade se identificasse com o fundamentalismo, se tornasse intransigente perante o diferente. Isso é muito perigoso. Mas não se muda nada estando de fora, você só muda estando dentro, o PT, os partidos progressistas, não podem alimentar esse fundamentalismo, essa intolerância, temos que estar nas comunidades evangélicas dialogando. A família evangélica também quer muita coisa que nós defendemos: educação de qualidade, saúde de qualidade, empregos de qualidade, segurança para os filhos, oportunidades na vida. Defendo que estejamos perto dos evangélicos, junto, dialogando e buscando os valores que temos em comum.

18) [GERMANO]: Recentemente, o Brasil lembrou a efeméride de um ano dos atos antidemocráticos do 8 de janeiro promovidos pelos bolsonaristas e dos quais o senhor acabou como agente da história pelo fato de estar ao lado de Lula, na prefeitura de Araraquara, onde o senhor é prefeito, no momento em que ele decretou a intervenção na segurança do DF, que não agiu corretamente para conter os baderneiros que destruíram as sedes dos Três Poderes. O senhor acha que a reação das autoridades e da sociedade civil mostrou que nunca mais teremos atos como esses? A democracia brasileira permanecerá inabalada?
[EDINHO]: Dizer que: nunca mais é muito forte. Demonstramos em 8 de janeiro de 23 que as instituições funcionam, que a democracia tem força institucional, que o Presidente Lula é o maior estadista da nossa história. Ele liderou a reação de forma histórica. Nessa junção de fatores a democracia venceu. Mas é preciso, primeiro, punir de forma exemplar quem articulou e financiou a tentativa de golpe, como também é preciso fazer da democracia um valor que seja balizador da sociedade que estamos construindo, não permitir que nada a afronte. Se isso acontecer, talvez “o nunca mais” possa ver uma verdade.

19) [GERMANO]: O senhor acha que só não houve golpe porque a maioria dos militares não aderiram à ruptura democrática proposta por Bolsonaro? O objetivo era mesmo destituir Lula do cargo?[EDINHO]: Penso que o 8 de janeiro não se tornou uma tragédia pela capacidade de reação das instituições democráticas e pela força do Lula, mas também por termos uma maioria democrática no alto comando das Forças. Temos gerações de comandantes que se formaram pela tradição democrática. Isso foi naquele momento e é muito importante.

20) [GERMANO]: O que acha que precisa acontecer com Bolsonaro? Deveria ser julgado e preso por incitar o golpe? 
[EDINHO]: Penso que todos que organizaram, incitaram e que financiaram a tentativa de golpe têm que responder perante a legislação. Absolutamente todos.

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